Monday, October 22, 2007

Neura = Cozinha


Quando estou enervada ou preocupada com alguma coisa, ou seja, com a neura, cozinhar alivia-me e cansa-me. Pois hoje apetece-me fazer assados, bolos, quiches, bolas e folares... era capaz de alimentar um batalhão com as receitas que poria em prática se pudesse. Amanhã vou para Ourém... talvez a malta lá tenha muita muita fome e paciência para me aturar as odisseias culinárias.

Disfrutar Lisboa quase à borla


Eu e o Celta temos um novo desafio: passear sem gastar dinheiro. E num domingo tão solarengo como o de hoje (ou é já ontem?) e com carteiras tão leves como as nossas decidimos dar um passeio por Lisboa. Deixámos o carro nos Restauradores (com tantos lugares de estacionamento que até dava para escolher!), descemos o Rossio e subimos o elevador de Santa Justa (4 euros os dois), que tem uma vista lindíssima sobre Lisboa.



Saímos no Carmo e sentámo-nos numa mesinha a fumar um cigarrito, enquanto um GNR de sabre torto matava tempo em frente ao quartel onde se cumpriu Abril. Seguimos pela rua da Trindade, passámos à Igreja de S. Roque e fomos até ao Príncipe Real. Cheirou-nos a bolos e pão quente, como tal entrámos na Panificadora de São Roque, cuja decoração vale a pena a visita, e comprámos 5 bolinhas (90 cênt). Chegados ao Jardim do Príncipe Real, demos meia volta e continuámos a ver as montras dos antiquários e a apreciar as varandas art déco (pelo menos foi o termo que o Celta utilizou, porque eu não percebo um c... caramelo disso). Como ainda tínhamos uma viagem no saldo do cartão que comprámos em Santa Justa, descemos aos Restauradores no Elevador da Glória, onde éramos os únicos portugueses.

O relógio marcava 6 e meia - fomos ao Hard Rock Cafe beber um cappuccino (3 euros) e tivémos na conversa quase até às 8 da noite... chegámos ao carro, o Celta deglutiu um dos pães e formos para casa, com a sensasão de passeio dos tristes cumprido! E tudo por 7,90 euros.

Feira do (Des)Emprego

Rumei à Gare Marítima de Alcântara com 26 CVs, pensando que ali teria alguma oportunidade. Aprendi que a palavra "licenciada" fecha sorrisos, que telemarketing é uma suposta carreira de sucesso, que nem um possível empregador estava presente e que se fosse cozinheira e tivesse o 9º ano teria bastantes oportunidades (caso quisesse ir trabalhar para uma empresa petrolífera que tem hóteis em Angola e fosse de origem africana, claro!!!) ! Devia-se chamar Feira de Empresas e sites de recursos humanos e de trabalho temporário - pelo menos assim não logravam o triste desempregado que, como eu, rumou a Alcântara cheio de espectativa e saiu de lá com vontade de mandar tudo e todos para o c%$#)&%$!!!

Represas

Durante mais de uma semana, consegui, a muito custo, manter-me firme a enfrentar a tempestade. Recalquei sentimentos para apoiar quem me rodeava e cumprir promessas há muito feitas, pensando que daria largas ao desgosto quando fosse tempo disso. Quando, finalmente, me encontrei sozinha comigo mesma não consegui deixar correr uma só lágrima. Sinto, no entanto, que tenho um rio ainda para chorar mas que a represa que fiz é demasiado forte para deixar fluir o que quer que seja. Gosto de me controlar ao ponto de ter o meu próprio tempo para me descontrolar... mas não consigo. Se de um lado a água se acumula, do outro é um abismo para o qual eu nem sequer quero olhar.

Thursday, October 18, 2007

Ás vezes não há uma única estrelinha que nos indique o Norte.

Para sempre

Há coisas que não se esquecem. E em relação ao meu avô tenho muito para recordar. A maneira como ele me sentava no balcão do café enquanto bebia uma bica cheia e escaldada e uma São Domingos. O que ele berrou no meu primeiro recital de música onde eu só sabia as primeiras notas das Pombinhas da Catrina. O que ele me ralhou quando me apanhou a fumar. A tentativa frustrada de me fazer entender as fórmulas matemáticas mais simples. A maneira como me pedia para ir fazer coisas tão chatas como ir entregar a declaração do IRS. A nossa viagem ao centro do país. Os berros que dava quando tinha a câmara de filmar e se armava em realizador gritando "aaaanda" ou "agora fala". O sorriso malandreco quando falava das inúmeras namoradas. O orgulho de ter 80 anos e "solteiro" no BI. Os cigarros que fumava em plena sala de espera dos hospitais, para meu horror. Quando ele me ia buscar à escola primária com um Ford Sierra enooorme e eu me sentia uma princesa a entrar para a limousine. Dos lanches de torradas e Trinas de maçã, antes de me levar à ginástica ou à música. Quando me chamava cara de pintarroxo e vigarista. Da paciência que tinha em levar-me ao clube de vídeo na esperança que eu trouxesse algo diferente, embora soubesse que eu traria o Dartacão pela milionésima vez. Dos relógios de corda sempre impecáveis. Dos sapatos que pareciam não envelhecer. Do alto no cimo da careca.
Não sei se alguma vez lhe disse realmente o quanto gostava dele. Se eu tivesse chegado 10 minutos mais cedo....

Sim, estou triste

O meu avô faleceu. Ao fim de três semanas não aguentou mais e sucumbiu. Vou ter saudades tuas, velhote. Muitas. Fazes-me falta.