Monday, March 5, 2007

Museu do Estado Novo

Pode parecer pouco democrático, uma vez que a democracia rege-se pelo pluralismo de posições e opiniões, mas não concordo com o projecto de Museu do Estado Novo e de Salazar a realizar em Santa Comba Dão. E passo a explicar porquê: além dos ferverosos habitantes de Santa Comba, que gritavam em plenos pulmões "Viva Salazar!" numa reportagem emitida pela SIC, e dos militantes do Movimento Anti-Fascista, quase todos idosos, que tipo de pessoas é que um museu deste género pode aliciar? Nacionalistas, saudosistas, criminosos de extrema direita, gente que colaborou com o regime.
Todavia, podem-me dizer que será frutuoso para as gerações vindouras perceberem essa parte sombria da nossa história e, consequentemente, os motivos que levaram ao 25 de Abril. E admito que é verdade que, hoje em dia, os jovens não fazem qualquer ideia do que se passou naquela época e porquê. Mas será que se acha mesmo que construindo um museu a Salazar, na terra onde este nasceu e onde pelos vistos é adorado, se vai expôr os dois lados da história? Acham mesmo que se vão mostrar os arquivos da PIDE e as torturas infligidas aos prisioneiros de consciência, com nomes tão sugestivos, como "frigideira"? Pensam que estarão expostos os ofícios onde Salazar proíbia veemente as manifestações dos trabalhadores? Ou aqueles que incentivavam as explorações das minas de volfrâmio pelos alemães em plena Segunda Guerra Mundial? Isto para não falar em provas que exponham a miséria, a fome, o trabalho duro sem quase nenhuma recompensa financeira, o abafar de escândalos que envolviam gente do regime, o abafar de vozes que se erguiam contra a sua lei, o envio de milhares de homens para guerras surdas e sem sentido... como se mostra tudo isto? Como se mostram as imensas histórias de "uma sardinha para três irmãos", "não pude estudar, não havia dinheiro", "casei, ele foi para a guerra e não voltou" ou "estive 3 anos preso por protestar contra as condições laborais da fábrica onde trabalhava".
Se a malta nova não entender isto, como vai entender o 25 de Abril senão como uma festarola em grande, com "cotas" vestidos com calças à boca de sino e óculos gigantescos, com cravos vermelhos à mistura e grandes sorrisos na face?
Não me parece que o Museu de Salazar vá ajudar o que quer que seja nessa matéria, o que vai fazer com que cada vez mais os jovens não compreendam como era ser-se um cidadão nessa época nem entenderem o que custou o significado de ser-se cidadão hoje em dia.

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