Saudosismos...

Num blog alheio alguém fez uma mini sondagem sobre o melhor português de sempre, à imagem do programa que a RTP vai emitir, apresentado por aquela senhora que sofre de Fibriomialgia (que, para quem não sabe, é a doença do cansaço crónico), à qual os ares da Embaixada Portuguesa em Londres fazem maravilhas e, suponho, o ordenado também. Seja como for, nessa tal mini sondagem apresentam-se nomes como José Mourinho, Amália, D. Afonso Henriques, José Saramago e Salazar. Surpresa das surpresas, o nome do Presidente do Conselho, também à imagem do que acontece no programa da Sodona Maria Elisa, está a ganhar aos pontos. Ora bem, já é mau que chegue termos este karma de andarmos sempre a olhar para o passado por julgarmos não ter nada com que nos orgulharmos no presente. Pior ainda é o saudosismo, que, pelo que parece, não atinge tão pouca gente quanto isso, associado à figura que manteve Portugal com rédea curta durante quase 50 anos.

Salazar assegurou as contas do Estado e levou-as a um superavit? Sim. Levou a cabo uma política externa assente na neutralidade, que nos safou de muitas e boas? Sim. Conseguiu, mesmo sem o apoio da ONU, exercer soberania sobre as colónias ultramarinas? Sim. Tinha uma política social que levava familias inteiras à fome e à pobreza extrema? SIM. Levou, embora que indirectamente, a guerras independentistas para onde foram enviados milhares de portugueses? SIM. Exercia um poder tal sobre o povo que instituiu uma polícia sanguinária e sádica que perseguia as ovelhas tresmalhadas do regime? SIM.

Estamos com saudades de quê, afinal? De não comer, não falar e não guerrear? Será mesmo necessário um Salazar em cada esquina? Eu preferia um candeeiro.

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